Em vídeos publicados em redes sociais, o caminhoneiro Franco Dalmaro, que se apresenta como líder da categoria, afirma que protocolou as demandas na Presidência da República para dar legalidade ao “Movimento Nacional dos Caminhoneiros”, que iniciaria com paralisação na quinta-feira (4). “Temos que ter respeito às leis, não podemos impedir o ir e vir das pessoas”, destaca Dalmaro.
Caminhoneiro sul-mato-grossense ouvido pela reportagem acredita que “dessa vez, vai parar mesmo“. No entanto, ele diz que a região deve ser a última a entrar em greve, caso a mobilização se confirme. “Está muito ruim, os fretes e o tratamento com o motorista por aí, está feio”, resume as demandas. Ele calcula que o preço das entregas de minério caiu cerca de 18% desde setembro de 2025.
Circulam informações preliminares de que a possível greve seria em retaliação à prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). No entanto, o caminhoneiro de MS esclarece que a paralisação não teria relação com questões político-partidárias. “Alguns vão querer levantar essa bandeira, mas não tem nada a ver”, diz ele.
Sindicalistas minimizam possibilidade de greve
Ao Jornal Midiamax, Osny Belinati, presidente do Sindicam-MS (Sindicato dos Caminhoneiros de Mato Grosso do Sul), afirma que a entidade está atenta à possível greve, mas descarta uma real paralisação. “Estamos de olho, mas não existe nenhuma movimentação. Em MS, não acredito em paralisação. Estamos de olho”, diz o sindicalista sul-mato-grossense.
Já Giovani Dias da Silva, vice-presidente do Sindicargas-MS (Sindicato dos Trabalhadores em Transportes de Cargas de Mato Grosso do Sul), afirma que — se houver paralisação — a greve deve ser restrita aos autônomos. O Sindicargas representa apenas os caminhoneiros com registro profissional em empresas. “Não foi feito nenhum comunicado ao nosso sindicato. Se tiver alguma movimentação, é por parte dos autônomos“.
Más condições de trabalho
O caminhoneiro autônomo ouvido pelo Jornal Midiamax relata que os fretes desvalorizaram significativamente nos últimos meses. “Frete do minério era R$ 385, chegou até R$ 415 para ir para Minas Gerais. Hoje está em R$ 340 reais a tonelada”, explica o motorista de caminhão.
Além disso, ele diz que os fretes de retorno tem valor muito baixo e deixam prejuízos aos motoristas. O trabalhador conta que fretes de ida com valor de R$ 300 transformam-se em R$ 80 no caminho de volta. “Eles querem que você volte por valores muito baixos para percorrer a mesma quilometragem, mas o valor do diesel e do pedágio é o mesmo. Nada muda, só o valor do frete”, relata o caminhoneiro.
Por fim, ele envia um vídeo que mostra fila de 15 dias para descarga de minério no interior de São Paulo. A pessoa que faz o registro cita caminhoneiros de Campo Grande e Nova Andradina. Eles reclamam da demora, da falta de acomodações adequadas e até de banheiros para os profissionais. A polícia paulista chegou a ser acionada para conter início de confusão no local.
“Muita gente não sabe o que acontece por aí, as dificuldades na jornada de um pai de família caminhoneiro. É duro, viu?, desabafa o caminhoneiro sul-mato-grossense.
A última grande greve de caminhoneiros ocorreu em 2018, no fim do governo Bolsonaro, antes da eleição de Lula (PT).
Em maio daquele ano, a categoria mobilizou-se em 54 pontos de protesto e bloqueio em Mato Grosso do Sul. Alguns caminhoneiros autônomos se negaram a deixar o protesto, mesmo após o Sindicam-MS determinar o fim da greve, em 30 de maio de 2018. Muitos caminhoneiros autônomos não reconhecem as lideranças sindicais. Sem uma liderança definida, eles se organizam em grupos de WhatsApp.
À época, a paralisação nacional causou alta nos preços de combustíveis, trancou rodovias e estradas, além de impactar até o movimento comercial em Mato Grosso do Sul.
Foto: Arquivo,
Midiamax
