“Os relatos de odores emitidos pela empresa são intrínsecos da atividade”. Essa foi parte da conclusão de uma vistoria do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) feita no frigorífico da JBS S/A, que tem sido apontado pelos moradores do Nova Campo Grande e região como fonte de mau cheiro que piorou nas últimas semanas.

Apesar da conclusão do relatório ‘livrar’ a planta frigorífica de responsabilidades, moradores questionam e insisten que a empresa seria uma das responsáveis pela “podridão” que castiga o bairro há anos. Alguns descrevem que o forte odor seria parecido com o de carne podre, enquanto outros apontam um cheiro semelhante ao de esgoto.

No último domingo (25), a moradores do bairro fizeram um protesto próximo à empresa para cobrar providências dos órgãos fiscalizadores.

Um dos responsáveis pela emissão de licenças ambientais para operação de frigoríficos no Estado é o Imasul. O órgão recebeu uma solicitação do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) para fazer uma fiscalização no local após uma série de denúncias de moradores apontarem que o fedor seria proveniente da planta frigorífica na saída para Aquidauana.

O que diz o Imasul?

Moradores protestaram contra fedor. (Ana Laura Menegat, Jornal Midiamax)

A vistoria relatada no Parecer Técnico Nº 212/2023 do Imasul foi realizada em 2 de outubro de 2023. O objetivo da fiscalização era verificar o cumprimento às condicionantes da Licença Ambiental de Operação, “principalmente quanto à eficiência e controle de emissões de odores”.

“A informação apresentada relata que os bairros Nova Campo Grande e Jardim Carioca, saída para a cidade de Aquidauana, são amplamente afetados pelos odores oriundos do empreendimento, de modo que sintomas como náuseas, dores de cabeça e extremo desconforto são comuns aos moradores das regiões”, diz parte do texto que originou o parecer técnico.

Após reclamações, frigorífico passará por vistoria para investigar mau cheiro no Nova Campo Grande

Entre os pontos analisados na fiscalização estão recursos hídricos, tratamento de efluentes, lagoas, lançamento de efluentes no córrego Imbirussu e verificação documental.

Em uma parte da visita foi verificado que a empresa emprega recursos para reduzir o cheiro de odores. A unidade tem autorização para abate diário de 1.250 bovinos.

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“Em atendimento a condicionante 4 da RLO [Renovação de Licença de Operação] Nº 134/2019, existem medidas mitigadoras, como o lavador de gases e a queima de gases com sistema Flare, visando minimizar a emissão de odores e poluentes que são intrínsecos da atividades, objeto das denúncias”, diz o parecer.

Trecho do relatório do Imasul. (Reprodução)

Na conclusão do Parecer Técnico, o Imasul considerou que o frigorífico cumpria as condicionantes específicas e gerais da RLO, que não foram constatados danos ambientais nos pontos fiscalizados, “tão pouco disposição irregular de resíduos e afluenetes”.

Além disso, o órgão também apontou que a unidade atende as normas ambientais e que “os relatos de odores emitidos pela empresa são intrínseco das atividades”, diz o texto.

Midiamax havia solicitado ao Imasul, em 15 de fevereiro, uma nota sobre as denúncias de moradores sobre o mau cheiro. Na época, o órgão afirmou que “não recebeu denúncia a respeito, mas vai averiguar a situação”.

Assim, foi questionado no mesmo dia se isso significava que haveria uma nova vistoria no local, mas até o momento não houve resposta sobre o tema. Todas as comunicações estão devidamente registradas.

Nesta quarta-feira (28), a reportagem solicitou novo posicionamento ao Imasul sobre a fiscalização que não apontou irregularidades, conforme relatou o MPMS. Não houve resposta até a publicação deste texto e o espaço permanece aberto para manifestações.

Moradores reclamam de mau cheiro

A condicionante 4 da RLO da JBS, mencionada acima pelo Imasul, proíbe a emissão de “substâncias odoríferas que possam causar incômodo à vizinhança, bem como a emissão de material particular e queima de resíduos ao ar livre, de qualquer natureza e em qualquer estado dentro da área do empreendimento ou em área de terceiros”.

Esse ponto é o centro das reclamações dos moradores ouvidos pelo Midiamax na última semana. A “podridão” se intensificou e até fez que alguns acordassem durante a madrugada.

Bairros na região Imbirussu sofrem com mau cheiro. (Nathalia Alcântara, Jornal Midiamax)

“Às vezes, a gente tá almoçando e é muito fedor. É todo dia, tem dia que está mais forte e tem dia que está mais fraco, fica até chato receber alguém em casa, nem ventilador vence”, relatou uma moradora ao Midiamax.

Problema antigo, mau cheiro piora na região do Nova Campo Grande e tira sono de moradores

“O mau cheiro aqui no bairro sempre foi algo terrível, o que, inclusive, prejudicou a valorização dos imóveis. Quem mora na parte do fundo do bairro, que é mais próximo da lagoa do frigorífico [perto da Avenida 5], sofre muito mais com esse odor”, disse outra na época.

Câmara deve investigar mau cheiro

Vereadores de Campo Grande prometem investigar o “cheiro de podridão” que assola a região do bairro Nova Campo Grande há anos. Moradores dos bairros Jardim Aeroporto, Vila Romana e Vila Popular pedem providências sobre a origem do mau cheiro.

O presidente da Comissão Permanente de Meio Ambiente da Casa de Leis, Zé da Farmácia (Podemos), explica que está aguardando um parecer do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul). O parlamentar também adianta que a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) está trabalhando no local.

“Estou aguardando o parecer do Imasul que é quem tem que fiscalizar. A Semadur já iniciou um trabalho de fazer uma varredora na região para analisar se não existe alguma outra coisa clandestina por ali. O frigorífico pode, sim, causar mau cheiro e vamos sim verificar pessoalmente”, disse Zé da Farmácia.

Midiamax tenta, há quase duas semanas, um posicionamento da JBS sobre o mau cheiro e as reclamações dos moradores, mas até o momento da publicação desta reportagem não obteve resposta. O espaço continua aberto para manifestações.

 

Ana Laura Menegat

Midiamax