‘Largo’ foi capturado na cidade de Santa Rosa, no Departamento de San Pedro, a cerca de 300 quilômetros de Pedro Juan Caballero. A operação resultou na detenção de outras cinco pessoas, que formariam uma quadrilha de pistoleiros de aluguel visando dominar o território na fronteira.
Entre os detidos estão: Carolina Giménez Duarte, irmã do líder do grupo e Silvio Ramón León Saucedo, 37 anos, oficial da Polícia Nacional lotado em Cerro Corá, responsável pela segurança pessoal de do pistoleiro.
O comissário Marcelino Espinoza, diretor de Investigação Criminal, classificou ‘Largo’ como “altamente perigoso”, afirmando que ele estava recrutando novos executores para fortalecer sua atuação no Departamento de Amambay.
Durante a operação da polícia paraguaia foram apreendidas três pistolas, uma escopeta e diversos carregadores e munições.
O destino final dos detidos ainda não foi oficialmente definido, podendo ser transferidos para Pedro Juan Caballero ou Assunção para prosseguimento das investigações.
Matadores contratados
De acordo com o diretor de Investigação Criminal da Polícia Nacional, ‘Largo’ teria passado de assassino a chefe de um esquema de matadores contratados que tenta impor o seu domínio no Departamento de Amambay.
“Queremos eliminar este grupo que pretende estabelecer-se em Pedro Juan Caballero”, afirmou Espinoza em declarações à rádio Monumental 1080 AM, salientando que o suspeito recruta jovens para os juntar à sua rede criminosa.
Segundo fontes da Polícia Nacional, as três execuções recentes na área estariam diretamente relacionadas com a estrutura liderada por “Largo. Uma das vítimas colaterais foi o mecânico brasileiro Victor Manuel Benítez, atingido por uma bala perdida durante um tiroteio registrado nesta terça-feira (21) no centro de Pedro Juan Caballero.
O suspeito ganhou fama de atirador e foi identificado como um dos autores do assassinato de Éderson Salinas, conhecido como Ryguasu, que morreu após ser baleado no estacionamento de um supermercado em Assunção.

Herdeiro de ‘Aguacate’
Após a morte de Marcio Ariel Sánchez, conhecido como ‘Aguacate’, Éder Giménez começou a trabalhar para ganhar o título de ‘chefe da pistolagem’ na fronteira. Policiais alegam que ele estava recrutando jovens atiradores, mas admitem não ter um número exato de membros na gangue.
Suspeita-se que seus homens foram contratados para acabar com a vida do brasileiro Jonathan Medeiro da Fonseca (36), ex-candidato a vereador do município de Coronel Sapucaia, cidade vizinha de Capitán Bado. Ele foi morto a tiros no estacionamento de um shopping center em Pedro Juan Caballero, na tarde de segunda-feira.
‘Largo’ também pode estar ligado ao ataque ocorrido na terça-feira entre as ruas Cerro León e Carlos Domínguez, no centro de Pedro Juan Caballero. O alvo do ataque era Luis César Argüello, conhecido como ‘Anguja’, cujo caminhão foi atingido por tiros.
‘Anguja’ reagiu ao ataque, e houve um tiroteio, resultando em danos colaterais; um deles era Víctor Manuel Benítez, um mecânico brasileiro que fazia compras na região. Ele foi atingido por tiros e morreu na manhã de quarta-feira. Um garoto de 15 anos também sofreu um ferimento superficial na mão e está hospitalizado.
No mesmo dia, César Michel Argüello Frutos (37), proprietário de um estabelecimento comercial, foi morto com 15 tiros em um lava-rápido no bairro de San Gerardo. Os agressores pilotavam motocicletas e usavam armas de grosso calibre; teriam sido treinados pelo indivíduo conhecido como Largo.
Escalada de assassinatos
A escalada de assassinatos por encomenda na fronteira de Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul e Pedro Juan Caballero, no Paraguai, revela uma dinâmica complexa que transcende o mero acerto de contas. De uma perspectiva analítica, os recentes homicídios se enquadram em uma dupla lógica de atuação: a dos ‘empresários do crime’ e a da ‘banalização da violência’.
A reflexão é do advogado e doutor em Criminologia pela Universidade de Barcelona, Espanha, Juan Alberto Martens Molas. Em conversa com a reportagem do Jornal Midiamax, o pesquisador paraguaio fala da dinâmica a respeito das execuções ocorridas em lugares até então ‘preservados’ pelos pistoleiros, como restaurantes e centros comerciais, envolvendo a linha imaginária da fronteira entre a cidade brasileira e a paraguaia.
Ao falar sobre a lógica dos ‘empresários do crime’, Juan Martens explica que “uma parcela dos crimes de sicariato (pistolagem) faz parte da forma de solução de problemas entre grupos do crime organizado”.
‘empresários do crime’
Segundo ele, neste contexto, inserem-se casos de alta complexidade (como os três mortos do lado brasileiro “na linha” ou o ocorrido no pátio do shopping, onde a intenção é matar, e a execução não respeita limites de espaço público ou privado).
“Quando a intenção é eliminar, as regras de comportamento são ditadas não pela lei do Estado, mas sim pela lei dos ‘empresários do crime’. O fato de as investigações da polícia apresentarem a figura de um ‘patrão’ e um ‘secretário’ evidencia a estrutura empresarial por trás dessas execuções. A violência é um recurso de gestão de conflitos e poder dentro desta estrutura”, pontua o pesquisador.
Por outro lado, a ‘banalização da violência’ passa a ficar mais explícita, a prática dos crimes de pistolagens, o acesso a armas e serviços de execução tornaram-se acessíveis a ponto de serem utilizados para resolver problemas que não estão diretamente ligados ao crime organizado.
Em outras palavras, o pesquisador ressalta que, como “há sicários e armas disponíveis e acessíveis, é possível requerer esses serviços e utilizá-los, mesmo que o mandante não faça parte da estrutura do crime organizado”.
Com isso, no entendimento de Juan Martes, a violência, antes restrita a disputas de poder, torna-se um recurso disponível no mercado para a solução de conflitos interpessoais ou empresariais.
(Fotos: Reprodução, Polícia Nacional)
Midiamax
